Você certamente já ouviu falar que um parente ou conhecido tenha ficado viciado em determinado remédio. Mas até que ponto isso era verdade?
Os medicamentos para dor são mais “viciantes” que um remédio para pressão alta ou para epilepsia?
Neste post, vamos explicar melhor alguns conceitos técnicos sobre o uso crônico de medicamentos e esclarecer alguns equívocos que se espalham pela Internet, muitos deles envolvendo analgésicos, principalmente os de uso controlado. Acompanhe!
Remédios viciam?
Antes de mais nada precisamos diferenciar os tipos de dependência que uma pessoa pode ter de determinado remédio. Para isso precisamos entender alguns conceitos como “mecanismo de ação”, “tempo de ação”, “tolerância” e “dependência”.
Veja bem, um paciente que usa remédios para controlar a pressão não está “viciado” nele, por que, apesar de depender dele para que a pressão não suba, pode tranquilamente ficar sem ele, mudar de substância, ou tomar medidas não farmacológicas (para de fumar, fazer dieta, praticar exercícios) e ainda assim controlar a pressão. Além disso, a falta da medicação não causa Síndrome de Abstinência.
A maior parte das pessoas que usam remédios controlados, para insônia, depressão, ansiedade, TDAH, epilepsia não fazem Síndrome de Abstinência quando ficam sem a medicação, apesar da maioria delas apresentar o retorno dos sintomas que apresentavam antes de tomá-los.
Qual a diferença entre eles e quem ficou “viciado” na medicação? Aqui entra um novo conceito que é o “Desmame” que é a retirada gradual e progressiva da medicação, que diminui os efeitos colaterais que a falta da medicação faz ao organismo, o que normalmente não é possível no paciente dependente, sem que você “troque” por uma substância intermediária, antes da retirada do remédio.
Mas, e quanto aos opióides?
Os opioides são uma classe de medicamentos que incluem analgésicos como a morfina, a codeína e o fentanil. Eles são usados para tratar a dor aguda e crônica, mas também podem causar dependência e overdose.
Fora do Brasil, em países como os Estados Unidos da América (lá principalmente), o uso de analgésicos opióides se tornou um verdadeiro problema de saúde pública. Isso não significa, que se prescritos de forma consciente, eles não sejam seguros. Hoje, com as medidas que o governo daquele país tomou, o maior problema está nas maneiras ilícitas de obtenção dessas substâncias.
Aqui no Brasil, acontece uma situação inversa. Muitos pacientes poderiam estar se beneficiando do uso dos opióides, e por desinformação e preconceito, tanto da população em geral, como de médicos, usa-se muito menos opióides que o adequado.
O principal a ser observado é que essa categoria de medicamentos não é adequada para uso regular do paciente com dor crônica, exceto para as dores em pacientes oncológicos. Nos demais pacientes, assim como na população geral, o ideal é que eles sejam utilizados por curtos período de tempo e durante crises
Casos especiais: Antinflamatórios
Antinflamatórios não esteroidais (AINE) são uma classe de medicamentos com potente ação analgésica e que são comumente utilizados para tratar dores agudas e crises de dores crônicas. Assim como os opióides, são uma excelente opção do arsenal do médico para tratar a dor, mas também tem sua hora e lugar de aplicação. São dois seus potenciais riscos: o sangramento gastrointestinal e a piora da função renal. Pacientes com histórico de hemorragia digestiva, varizes de esôfago, gastrite e cirrose devem evitar usar AINES. O mesmo se aplica aos pacientes renais crônicos, mesmo os que não fazem hemodiálise. Consulte seu médico antes de usar esses medicamentos e avise ao médico ou enfermeiro se estiver num atendimento de emergência em que as pessoas ainda não conhecem seu histórico de saúde.
Analgésicos comuns causam dependência?
Conforme eu expliquei, o uso constante de uma mesma medicação não causa necessariamente dependência química, mas existe uma condição chamada “cefaléia induzida por fármacos”
O uso frequente ou diário de medicações para tratar cefaleias agudas pode aumentar a frequência das cefaleias e fazer com que as cefaleias episódicas se tornem crônicas.
A prevalência de uso abusivo de medicamentos para cefaleia é de 1 a 2% da população geral. É mais comum em mulheres do que em homens; a maioria das pessoas com esse tipo de cefaleia tem enxaqueca episódica subjacente ou cefaleia tensional.
Pacientes que desenvolvem esse transtorno tomam doses frequentes ou excessivas de analgésicos (p. ex., triptanos por ≥ 10 dias/mês), muitas vezes com alívio parcial.
O tratamento é feito com a interrupção do uso dos medicamentos que estão causando a cefaleia.
A interrupção do uso dos medicamentos pode levar a uma piora da cefaleia nas primeiras semanas. Essa piora é chamada de síndrome de abstinência de cefaleia. O paciente deve ser orientado a continuar com a interrupção dos medicamentos, mesmo que a dor piore.
A maioria dos pacientes consegue controlar a CIF com a interrupção do uso dos medicamentos. No entanto, alguns pacientes podem precisar de tratamento adicional, como terapia comportamental cognitiva ou medicamentos preventivos.
Tratar a dor é fundamental! O uso de analgésicos, pode parecer inofensivo, mas em caso de dores crônicas, consultar um profissional qualificado é garantia do melhor tratamento. Até mesmo medicamentos potencialmente perigosos como os opióides podem, e devem, ser usados nos casos apropriados.
Se você ainda se sente inseguro ou tem alguma dúvida enter em contato ou agende uma consulta. tenho certeze que vamos encontrar a solução adequada ao seu problema!